A Presidente da Eslováquia empossou esta quarta-feira o novo Governo liderado pelo ex-primeiro-ministro populista conservador Robert Fico, que deverá seguir uma política externa nacionalista, prometendo acabar com a ajuda militar à Ucrânia para repelir a invasão russa.
Robert Fico volta ao cargo de primeiro-ministro pela quarta vez, depois de o seu partido Smer (Direcção-Democracia Social) ter vencido as eleições parlamentares de 30 de Setembro. O partido conquistou 42 assentos no parlamento de 150 assentos no seguimento de uma campanha pró-Rússia e antiamericana.
Fico formou uma maioria parlamentar ao assinar um acordo de governo de coligação com o partido esquerdista Hlas (Voz) e o ultranacionalista Partido Nacional Eslovaco. O Hlas, liderado pelo ex-vice de Fico no Governo, Peter Pellegrini, alcançou 27 mandatos.
Pellegrini substituiu Fico na chefia do Governo quando o então primeiro-ministro se demitiu na sequência de grandes protestos de rua resultantes do assassínio em 2018 do jornalista Jan Kuciak, que investigava as relações do crime organizado com o poder, e da sua noiva.
O reencontro de Fico e Pellegrini foi fundamental para a criação do novo governo. O terceiro parceiro, o Partido Nacional Eslovaco, assumidamente pró-Rússia, conquistou 10 assentos na legislatura.
A vitória de Fico pode marcar uma reviravolta significativa na política externa do país e prejudicar uma unidade frágil na União Europeia (UE) e na NATO. O novo chefe do Governo terá esta quinta-feira a primeira oportunidade de apresentar os seus pontos de vista no Conselho Europeu, em Bruxelas.
A Eslováquia, um país de 5,5 milhões de habitantes, tem sido até agora um firme apoiante da Ucrânia desde a invasão russa em Fevereiro do ano passado, fornecendo armas e abrindo as suas fronteiras aos refugiados ucranianos.
Fico prometeu seguir uma política externa soberana, opondo-se às sanções da UE à Rússia e questionando se a Ucrânia pode vencer a guerra e aderir à NATO.
Em vez de armas para Kiev, o novo líder propõe que a UE e os Estados Unidos usem a sua influência para forçar a Rússia e a Ucrânia a chegarem a um acordo de paz. O primeiro-ministro agora empossado já repetiu as afirmações do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que o Governo ucraniano dirige um “estado nazi” do qual os russos étnicos no leste do país precisavam de protecção.
O novo executivo ainda não divulgou o seu programa político, mas Fico sugeriu que incluirá uma postura dura contra a imigração e as organizações não-governamentais que recebem financiamento do exterior.
Vários dos novos ministros foram associados a campanhas de desinformação ou são conhecidos por disseminar notícias falsas, incluindo a ministra da Cultura, Martina Simkovicova, nomeada pelo Partido Nacional Eslovaco.
A Presidente eslovaca, Zuzana Caputova, recusou o primeiro elenco governativo, que incluía Rudolf Huliak como novo ministro do Ambiente, também nomeado pelo Partido Nacional Eslovaco e conhecido por duvidar da ameaça das alterações climáticas.
Em resposta, o mesmo partido anunciou a nomeação de Tomas Tabara, que, no entanto, também é conhecido por declarações polémicas sobre o ambiente, mas viabilizando a posse do executivo.
Desde que o Governo anterior assumiu o poder em 2020, após fazer campanha anticorrupção, dezenas de altos funcionários, agentes da polícia, juízes, procuradores, políticos e empresários ligados ao Smer foram acusados e condenados por corrupção e outros crimes.
O próprio Fico e o seu antigo ministro do Interior, Robert Kalinak, chegaram a enfrentar acusações criminais no ano passado por criarem um grupo criminoso e por abuso de poder. Kalinak é o ministro da Defesa do novo governo.
Conhecido pelas suas tiradas contra jornalistas, Fico fez campanha contra a imigração e os direitos LGBTQ+ e ameaçou demitir investigadores da Agência Penal Nacional e do procurador especial que trata dos crimes mais graves e da corrupção.
Os críticos temem que o seu regresso ao poder possa levar a Eslováquia a seguir o caminho nacionalista e conservador da Hungria, liderada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán.
Além do cargo de primeiro-ministro, o Smer tem outros seis ministros, o Hlas fica com sete e o Partido Nacional Eslovaco três.