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Será um “Calvário”? Não, é uma meditação cómica e séria sobre o que é fazer teatro

O que é a arte de cada vez que, no presente, ela se manifesta? “Calvário” responde

Logo na primeira indicação do texto: “Um palco de um teatro onde se ensaia a peça ‘Minetti — Retrato do Artista Quando Velho’, de Thomas Bernhard”. Em cena estão uma atriz e um ator, depois o encenador e o seu assistente: Miranda, Cunha, Miguel D’Almeida e Lucas, respetivamente. Mais tarde, chegarão Beirão e o seu assistente, Anselmo: o ator que vai representar Minetti e o seu assistente; e depois, ainda, Vânia, uma intérprete gestual. “Calvário” passa-se como um diálogo entre dois mundos, basicamente; o mundo de Miguel D’Almeida e do seu assistente, Lucas, e o mundo de Beirão e de Anselmo. Poderia ser um confronto entre um mundo novo e um mundo antigo, e assim é, em certa medida; mas é mais do que isso. Miguel D’Almeida e Lucas fazem parte de um contexto atento às contingências contemporâneas, à cultura woke e às correspondentes manifestações artísticas; Beirão e Anselmo pertencem — até pela idade de Beirão, muito mais velho do que os outros — a um mundo no qual a interseccionalidade e a correção política, ou não tinham a relevância que têm hoje, ou se manifestavam de maneiras muito diferentes — quando se manifestavam. A dimensão manifesta do mundo de que Beirão faz parte corresponde, essencialmente, àquilo que era importante há algum tempo, e não, necessariamente, àquilo que é importante hoje, e que por isso, se manifesta diversamente.

As coisas complicam-se, ainda, por outras razões. Se ao mundo de Miguel D’Almeida corresponde um vocabulário específico, ele acentua, também, outros aspetos da personagem: oportunismo e ignorância são os traços mais evidente; no caso de Lucas, existe também a arrogância característica de quem, por circunstâncias várias, pensa ter sempre razão, e estar no direito de excluir quem não pense da mesma maneira. Entre estes dois mundos, o antigo e o novo, estão os dois outros atores, Miranda e Cunha, tentando sobreviver, melhor ou pior.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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