TIAGO MIRANDA
O ex-governador do Banco de Portugal e vice-presidente do Banco Central Europeu defendeu que a inflação terá de ser dominada para cerca de 2%, mas os bancos centrais terão de equacionar uma nova meta, por exemplo de 3% . E explica que só assim os bancos centrais terão margem de manobra para reduzir taxas em caso de “episódios recessivos”
O antigo governador do Banco de Portugal e ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), convidado para falar sobre “Portugal e os desafios do presente: o papel dos economistas e gestores”, no Congresso da Ordem dos Economistas, referiu que tal como a inflação subiu bruscamente também já estar a dar evidências de descida e acredita que no final de 2024 estará perto dos 2%.Contudo, num futuro próximo os bancos centrais deverão repensar um novo patamar da inflação mais alto, de, “por exemplo 3%”.
“A manutenção da meta de 2% pode induzir a um enviesamento restritivo permanente à política monetária, o que prejudicará o crescimento", afirmou Vítor Constâncio, adiantando que “a meta de 3% evitaria que os períodos recessivos empurrassem a inflação para baixo e as taxas de juros para o limite inferior a zero”.
E, conclui: “Uma meta de 3% também daria mais espaço para a política monetária reduzir as taxas em caso de episódios recessivos”.
Vítor Constâncio considerou também que a área do Euro, assim como os EUA poderão estar perante uma “recessão iminente”. Para isso contribuirão, como sublinha o ex-governador do Banco de Portugal, alguns pontos negativos no espaço europeu como sejam “a inversão da curva de juros”, o aperto dos bancos na concessão de crédito entre abril e julho e o declínio do sector da construção há 12 meses. Tudo junto poderá determinar uma ligeira recessão na área do Euro, a que se seguirá um cenário idêntico nos EUA.
Vítor Constâncio, que recebeu esta quarta-feira por parte da Ordem dos Economista o título de Economista Emérito, referiu ainda perante uma plateia de economistas, o ministro das Finanças e o presidente da Republica que não tem dúvidas de que “não voltaremos ao regime de inflação muito baixa que tivemos durante os últimos 25 anos”.
Vítor Constâncio e António Mendonça
TIAGO MIRANDA
O ex-vice presidente do BCE não descarta que num futuro próximo “as economias desenvolvidas, em particular a área do euro, deverão atravessar um período de estagflação: inflação a terminar a sua normalização e crescimento negativo ou próximo do zero”.
A médio prazo, Constâncio, considera que mesmo sem um “episódio de estagflação, as economias avançadas tenderão a regressar a um regime de estagnação secular do crescimento a médio e longo prazo” o que implicara um crescimento relativamente baixo.
O ex-vice presidente do BCE sublinha que “em termos reais, as atuais taxas oficiais de crescimento potencial para a área do Euro e os EUA, rondam os 1,2% e 1,8%, respetivamente”, o que resulta de "baixas taxas de crescimento demográfico e da continuação de um baixo crescimento de produtividade".